Daniele Facchini

Na literatura modernista as antigas estruturas clássicas do verso eram vistas como algo conservador e anacrônico, e a ação de inová-las estaria dentro do poema visual, do haicai e do verso livre, produzindo, assim, algo inovado por meio da ruptura, característica marcante entre os poetas do Modernismo.
Mário Faustino (Teresina, 22 de outubro de 1930 — Lima, 27 de novembro de 1962) viveu nessa época modernista e mesmo tendo acompanhado as inovações literárias pregadas por vários poetas daquele momento, como não seguir mais regras e estruturas tradicionais na composição, privilegiou a Literatura produzida por meio da renovação daquilo chamado antigo, do que promover a inovação pela ruptura. Faustino compôs sua obra cultivando e renovando formas consagradas numa postura crítica dentro de sua própria criação, como podemos observar no poema “O mês presente”.
Mário Faustino foi tradutor de poesia européia e também crítico da literatura que escrevia para uma coluna semanal do Jornal do Brasil, na qual postava textos sobre literatos de sua época, tais como Cecília Meireles e Carlos Drummond de Andrade. Em vida lançou apenas um livro de poesia, O Homem e Sua Hora (1955). Embora sua poesia tenha a revisão referencial de autores do passado e de sua época para produzir suas obras, Faustino exerceu um papel decisivo e importante para nossa Literatura Brasileira ao representar uma figura de apoio entre dois extremos literários que eram, até então, inconciliáveis naquela época: a tradição e a transgressão. Essa postura foi alimento para movimentos como o concretismo, e a valorização da recriação por meio da tradução. Ele assumiu, então, o lema “Repetir para aprender, criar para renovar”. Diferentemente do que os modernistas pregavam, Faustino não rompeu com o antigo, mas ressuscitou formas clássicas renovando-as com um mergulho intransigente na mitologia e na metalinguagem. Ele, também, compunha utilizando-se de um tom imperativo, de censura, ameaça e de severidade parecido com os profetas bíblicos. É possível destacar em seus versos símbolos do Cristianismo e a transfiguração dos temas mais prosaicos para conflitos subjetivos e atemporais. Segundo o artigo da Revista Bravo, o deboche, a ironia, os trocadilhos e a distensão modernistas não são características a serem encontradas na obra de Faustino, pois ele era um poeta de elevado estado de transe metafórico e de limpidez, que morreu precocemente em 1962, aos 32 anos, num desastre aéreo. A reedição do livro O Homem e Sua Hora confirma a importância do poeta Mário Faustino para a Literatura Brasileira, poeta este que mesmo tendo presenciado uma das fases modernistas de inovação e ruptura na linguagem, conseguiu expressar sua arte poética por meio da renovação da linguagem. Ele não rompeu com as tradições e estruturas antigas da Literatura que regeram a linguagem por determinado tempo, mas fez uso delas renovando-as e criando, a partir delas, uma linguagem nova e diferente, de acordo com os seus próprios conceitos e princípios literários. Mário Faustino não se deixou levar pelas idéias e inovações anunciadas pelos poetas modernistas de sua época e, assim, compôs de maneira mais autêntica, preferindo seguir seu próprio estilo de escrever e criar poesia, do que apenas ser mais um adepto dos “modismos modernistas” que se propagavam e se manifestavam na Literatura daquele momento. Fica o convite à leitura da coluna da Revista Bravo, cujo exemplar você leitor, encontra na Biblioteca do Campus do Centro, UNIANCHIETA, Jundiaí. Até a próxima Biblioteca em Revista. Daniele Facchini é aluna do 5º semestre da Graduação em Letras do Centro Universitário Padre Anchieta, e colunista de Biblioteca em Revista, coluna mensal sobre artigos dos periódicos disponíveis no acervo da Biblioteca do Campus do Centro desta Instituição.
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