quinta-feira, maio 20, 2010

Contemporânea


Gregório F. Dantas

Jaqueson Luiz da Silva


Pouco se pode dizer contra o fato de que a mídia impressa vem competindo, já há algum tempo, com a mídia eletrônica, para a qual vem perdendo espaço: os cadernos culturais dos jornais de grande circulação, por exemplo, estão cada vez menores, sofrendo da carência de anunciantes; em contrapartida, os jornais estão investindo cada vez mais na internet, desenvolvendo meios para que a informação chegue ao consumidor cada vez mais rapidamente, e para que seja consumida da maneira mais fácil possível. O que dizer, então, da crítica literária? Qual o lugar dela, se nem bem sabemos qual o lugar da literatura?

Pode-se dizer por ora que a chamada literatura contemporânea divide-se entre uma postura crítica, não necessariamente acadêmica, e outra mais midiática, ocupando-se, respectivamente, pelo menos de duas concepções do fazer literário: ficção enquanto possibilidade e verossimilhança e outra com certa pretensão à realidade, ou melhor, modeladora, e na pior das hipóteses, infelizmente, alienante.

Há quem diga que uma possível conciliação estaria na internet, e que os blogs e sites pessoais tomariam o lugar da crítica especializada dos jornais impressos, e democratizaria ainda mais a opinião e juízo dos leitores. Há quem diga, também, que esse quadro seria o pior dos mundos: sem comentadores especializados, os blogs — em sua forma mais vulgar, a de diários pessoais — serviriam apenas para propagar opiniões vagas e lugares comuns sobre literatura.

Nem tanto ao mar, nem tanto a terra. O blog não precisa ser o lugar do comentário banal; como muitos críticos vêm mostrando, este é um veículo privilegiado para a divulgação de idéias, que promove como poucos o diálogo entre o crítico e o público.

A presente coluna se propõe a ser um espaço de reflexão sobre a produção literária contemporânea. Sem preconceitos, este espaço deve abrigar comentários tanto sobre livros que vem chamando positivamente a atenção da crítica especializada, quanto sobre os livros mais populares, os chamados best-sellers, sem contudo resumir sua apreciação a questões subjetivas e de gosto pessoal. É fundamental para o profissional de Letras que consiga se posicionar a respeito de uma obra literária de maneira crítica e independente, sem se limitar aos clichês de apreciação impostos pelo mercado. E, ao mesmo tempo, evitar os lugares comuns da crítica, seja ela universitária ou jornalística. Pois como se sabe livros bons e ruins vendem muito, vendem pouco ou vendem nada.
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    O que garantiria a qualidade literária, então, se o valor comercial é tão extrínseco ao texto? E se a tecitura da obra literária for forjada segundo modelos preestabelecidos pelo mercado e pela cultura de massa ou por uma política da indústria cultural, podemos considerá-la, como diz Ricardo Piglia, refazendo Borges, algo que discute as mesmas coisas que a ciência, a história e a filosofia, entretanto de outra forma? Ou funcionaria ela apenas como uma máquina que formaria leitores com falsas lembranças e experiências impessoais decodificadores de imagens e não aquele último, intérprete e criador, que leria para agir, pensando a realidade, não como algo representável apenas, mas como mais uma forma de verossimilhança da qual a literatura também faz parte? E nesse sentido, ler um clássico seria ler a memória de outros, para compor a memória própria como faz um Quixote, uma Bovary ou um Kafka, recompondo sempre a própria realidade, sem se deixar levar pela realidade dos outros? Nossa ideia é colaborar, ainda que timidamente, para inaugurar um espaço aberto para a discussão sobre literatura, sem as vaidades e os preconceitos que contaminam a vida intelectual que vemos por aí. Nos encontraremos em breve, para nossa primeira discussão sobre o livro Caim de José Saramago. Até lá!


    2 comentários:

    1. Bem, acredito que é preciso separar uma coisa: exitem públicos e públicos. É uma pena que as novas gerações sejam consideradas, pela mídia moderna e paternalista, incapazes de compreender textos mais amplos, complexos, críticos e livres.

      O discurso moderno diz que está todo mundo com pressa, não há tempo para se ater a minúcias e que, portanto, é desculpável boiar na superfície. Aprofundar-se é perder tempo e não contemplar tudo o mais que acontece.

      Porém, pelo que venho observando na Internet - e é preciso muita pesquisa para filtrar tanta coisa vaga - a resposta dos internautas jovens à crítica literária também revela conhecimento acima do meramente imposto pela mídia. Se bem que estes são geralmente estudantes e pesquisadores de literatura.

      Infelizmente, mesmo com tantos meios de divulgação que hoje existe, ainda prevalece a preguiça, a espera de que pensem pelos outros. Esse é uma fato histórico e talvez imutável.

      A propósito, aguardo ansioso a crítica sobre Caim, de José Saramago. Já o li e também pesquisei algumas críticas a respeito.

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    2. O que você escreveu Reginaldo me fez pensar que a modernidade, com sua produção em larga escala de tudo, gera lixo numa proporção quase que equivalente, e para encontrar o que de bom tem a oferecer a internet, faz-se necessária uma pesquisa por vezes descomunal. A propósito do Saramaga, ah!! em breve sairá no Blog a crítica sobre Caim, aliás, as críticas (Rutzkaya)

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