segunda-feira, outubro 25, 2010

FLIP e a celebração da Literatura

por Reginaldo Maciel


A cidade fluminense Paraty, conhecida também como terra da cachaça, pelo oitavo ano aquece o inverno brasileiro com um dos eventos mais esperados para aqueles que amam os livros: é a Festa Literária Internacional de Paraty, ou simplesmente Flip. Ocorrida entre os dias 4 e 8 de agosto, a festa, que sempre acontece em julho, foi atrasada em um mês por conta da Copa do Mundo.
Pensem na maravilha de um evento que reúne autores, editores, jornalistas, críticos, músicos, artistas da TV e públicos, leitores ou não, de todos os lugares do mundo. Há quem possa se gabar de ter conhecido em alguma das edições famosos escritores brasileiros e estrangeiros como Ariano Suassuna, Luis Fernando Veríssimo e Lygia Fagundes Telles, o inglês William Boyd, o irlandês Colum McCann, o português António Lobo Antunes; músicos como Chico Buarque, Caetano Veloso e Adriana Calcanhoto.

Neil Gaiman, um dos cartunistas mais conhecidos da atualidade, também já esteve na Flip e reuniu uma multidão atrás de autógrafos em 2008.

Outros nomes menos famosos, mas não menos importantes, como o jornalista literário norte-americano Gay Talese e o historiador britânico Simon Schama também já fizeram parte dessa lista.


Homenagem a Gilberto Freyre


Todos os anos o evento homenageia um escritor brasileiro e a lista tem reunido só nomes de peso. O primeiro tributo foi ao “poetinha” Vinícius de Moraes, em 2003, e nos anos seguintes os homenageados foram Guimarães Rosa, Clarice Lispector, Jorge Amado, Nelson Rodrigues, Machado de Assis e Manuel Bandeira. Neste ano, o autor da vez foi o controverso sociólogo Gilberto Freyre, não exatamente um ficcionista, mas apontado pelos organizadores do festival como “o mais literário dos pensadores sociais brasileiros”.


E foi a conferência “Casa-grande & senzala: um livro perene”, que abriu a primeira noite do festival. Apresentada pelo sociólogo Fernando Henrique Cardoso, que falou sobre as contradições que estão na origem dessa obra de Gilberto Freyre sobre a escravidão no Brasil, a palestra contou com a presença do debatedor Luiz Felipe de Alencastro, um dos maiores estudiosos brasileiros desse tema.
A noite foi encerrada com a apresentação do quarteto de cordas da academia da Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo (Osesp) e do músico carioca Edu Lobo, que fizeram um show inspirado no homenageado da noite.

Programação

Entre as muitas mesas de debates e palestras, um dos destaques deste ano foi o tributo a Carlos Drummond de Andrade, com a leitura do seu livro Alguma poesia, que completa 80 anos em 2010. As declamações foram feitas pelos poetas Antonio Cícero, Ferreira Gullar, Chacal e Eucanaã Ferraz. Ferreira Gullar, por coincidência, também completa 80 anos e foi homenageado pela Mesa 13, espaço que lhe serviu para falar sobre sua trajetória e ler prévias de Em Alguma Parte Alguma, sua mais recente obra. A homenagem ocorreu poucas semanas após o poeta receber o "Camões", um dos mais importantes prêmios da língua portuguesa.


O nobel José Saramago, morto em junho passado, foi lembrado no quarto dia da Flip, com a exibição de trechos do documentário José & Pilar, do diretor português Miguel Gonçalves Mendes e co-produzido por Fernando Meirelles, que será lançado em novembro próximo. O filme baseia-se em gravações feitas sobre a convivência do escritor com sua esposa Pilar del Río, à época em que escrevia seu penúltimo livro, A Viagem do Elefante, lançado em 2008.
“A origem do universo” foi o tema da Mesa 14, que contou com a participação do artista gráfico e ilustrador Robert Crumb, que recentemente lançou uma versão em quadrinhos para o primeiro livro da Bíblia, o “Gênesis”. Ao seu lado esteve o cartunista Gilbert Shelton, outro expoente da contracultura underground norte-americana atual.


Outros eventos

Concomitantemente ao festival, aconteceu a “Flipinha”, direcionada à formação de jovens leitores, em ações que envolvem alunos e professores da rede escolar pública e privada do município de Paraty. Nela aconteceram apresentações teatrais, leituras de livros e poemas, encontros com autores, etc., nos moldes da Flip e também homenageando Gilberto Freyre.


Outra atração sempre presente é a Casa da Cultura, onde ocorrem encontros literários diversos. Nesta Flip de 2010, destacou-se a conversa com Aliseon Entrekin e Berthold Zilly, no evento “Lições de tradução da literatura brasileira”, em que eles contaram os segredos da profissão de tradutor à pesquisadora de literatura contemporânea Leila Lehnen. Entrekin traduziu para o inglês o livro Budapeste, de Chico Buarque; é de Zilly a tradução para o alemão d’Os Sertões, de Euclides da Cunha.

Para quem quiser saber mais sobre a Flip aqui está o endereço do site dos organizadores: http://www.flip.org.br

Reginaldo Maciel é aluno do 4º semestre de Letras do UNIANCHIETA e responsável por uma coluna sempre com assuntos diretamente relacionados aos últimos acontecimentos no mundo da literatura, cinema, artes, além das redes sociais e afins.

Um comentário: