Há Reais Dificuldades no aprendizado Bilingue?
por Ellen Perini
Quando a criança cresce em ambiente bilíngue e desenvolve o bilinguismo, isso reflete, entre outras coisas, em aumento de Q.I., de habilidades linguísticas, matemáticas, maior tolerância cultural e até em diminuição da chance de ter mal de Alzheimer. Dentre os grupos estudados por Dr. Pearson que é pesquisadora associada da Universidade de Massachusetts e tem mais de 20 anos de experiência na área de bilinguismo e linguística, os melhores resultados em todos os parâmetros citados acontecem quando a segunda língua é introduzida desde o nascimento ou bem cedo na infância. Entretanto, será que o bilinguismo também é sinônimo de problemas?
Existem casos "bem sucedidos" de bilinguismo e casos nem tão bem sucedidos assim. Existem crianças que conseguem dominar mais de um idioma completamente, crianças que entendem um idioma, mas respondem em outro, crianças que não conseguem entender ou pronunciar mais que algumas palavras e crianças que, mesmo vivendo em ambiente bilíngue, são monolíngues.
Um dos motivos que torna a aquisição de uma segunda língua difícil ou impossível é: a criança já apresentar problemas em adquirir uma primeira língua, quando existe um impedimento real para aquisição de primeira língua, como surdez ou retardo mental grave. Fora isso, todas as outras crianças são capazes de falar em um ou mais idiomas e o esforço necessário para se tornar bilíngue é bem menor do que o que a maioria dos leigos pensa. Existem ainda relatos de portadores de síndrome de Down bilíngues, que alcançaram o mesmo grau de complexidade em ambos os idiomas. Portanto, achar que uma criança não é capaz de aprender dois ou mais idiomas ao mesmo tempo, seria o mesmo que acreditar que uma criança NUNCA falará.
Muitos leigos dizem que a maioria das crianças que tem problemas de linguagem como gagueira, dislexia e outros, são bilíngues, porém, vamos seguir um pensamento lógico de um estudioso que realmente tem conhecimento sobre o assunto:
SE o bilinguismo causa problemas de linguagem, ENTÃO espera-se que os problemas de linguagem sejam mais frequentes em grupos de crianças bilíngues do que em crianças monolíngues, certo? Pois é, mas não é isso que acontece na realidade. Os problemas relacionados à fala são achados na mesma proporção nos dois grupos acima citados. LOGO o bilinguismo não pode ser culpado por esses problemas. O que acontece é que quando a criança é bilíngue, logo culpa-se o bilinguismo por tais problemas, uma vez que a maioria tende a achar que aprender mais de um idioma vai confundir e atrasar a criança.
Na verdade, o problema não está no bilinguismo, mas sim em como as duas línguas são ou devem ser ensinadas e aprendidas de forma que ambas sejam totalmente dominadas por aquele que está aprendendo. Para aprender realmente a estrutura de uma língua é necessário estar exposto a ela de diferentes formas e com grande frequência. Se o aprendiz for muito bem guiado dentro deste processo é muito pouco provável um fracasso por parte dele.
Para explicar o fantástico talento infantil para idiomas, os psicolinguistas criaram o conceito de "Aparato de aquisição de linguagem”, que é uma área cerebral que existe em todos os recém-nascidos. Esse aparato de aquisição, sozinho, não promove o desenvolvimento da linguagem. Os bebês nascem em ambientes que são favoráveis à aquisição do idioma e esse suporte ambiental, representado inicialmente pela família, é conhecido como "Sistema de Suporte à Aquisição de Linguagem”. Desse modo, o Aparato de Aquisição representa a contribuição da natureza e o Sistema de suporte representa a contribuição do ambiente e, com essas duas “ajudinhas”, crianças do mundo inteiro aprendem um ou mais dos cerca de 6 mil idiomas falados ao redor do globo. Todas essas crianças aprendem a falar de modo semelhante e seguindo praticamente o mesmo tempo de desenvolvimento. Primeiro vem os sons, depois as sílabas, as palavras, as frases de duas palavras, as frases maiores e, por fim, os textos.
Como todas as crianças, as bilíngues nascem com o mesmo Aparato de aquisição de linguagem das monolíngues, obviamente a diferença está no Sistema de suporte à aquisição de linguagem, que precisa ser expandido e melhorado nos bilíngues.
Para finalizar esse artigo, darei um exemplo que encontrei na Internet sobre um caso real da força do desejo de aprender:
Um aluno de nacionalidade argentina e portanto falante de espanhol, foi colocado aos 8 anos em um curso de inglês para crianças. Depois de repetir o curso básico duas vezes, foi sugerido a seu pai que o retirasse do curso, com a afirmação de que ele “não tinha aptidão para línguas”. Seu pai, dois anos mais tarde, foi transferido para Londres e a família o acompanhou.
Esse aluno foi então matriculado numa escola para nativos e não apresentou problemas para aprender uma outra língua. Houve aí a compreensão por parte da criança do quanto era necessário ela aprender este novo código, sem o qual não poderia se socializar nem sobreviver na nova sociedade.
Mais tarde novamente seu pai foi transferido para o Brasil e, uma vez mais a criança aprendeu rapidamente outro código: a língua portuguesa. Hoje é fluente em três línguas, quando havia sido declarado a seu respeito que ele não tinha aptidão para línguas!
Tomemos isso como prova de que as dificuldades só existem para aqueles que olham tudo com falta de interesse e vontade – exceto os casos excepcionais já citados anteriormente nesse artigo – e, que, a partir do momento que se faz necessário o bilinguismo, a criança aprende naturalmente, sem encontrar as dificuldades que tanto assombram os pais.
Ellen Perini é aluna do 5º semestre de Letras do Centro Universitário Padre Anchieta (Jundiaí), e responsável pela coluna L2 – ao redor da Língua Inglesa, coluna bimestral sobre assuntos relacionados a ensino e aprendizado de segunda língua, com ênfase em Língua Inglesa.
quarta-feira, agosto 18, 2010
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário